segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Memórias

Arraiolos 29 de janeiro 2006 colecção particular
Carta para não me esquecer

Prezo saber que durante este entremeio não se manteve sentado.
A alma de qualquer coisa, está em nós que a compomos, no toque da mão na pedra, do cheiro daquela praça, dos sons alvorados dia.
Digo-lhe agora, que a minha cidade de pedras, aguarda silenciosa do outro lado do rio.
Seca magia, ponteada de verde nas pedras musgo.

Agora branca na vergonha dos homens.

Não sou de criar raízes, mas polvilho-me de sementes por onde passo.
E num qualquer recanto em maré de saudade dor, planto-as e rego-as.
Voltarei a desandar numa última mirada para um qualquer braço de mar, e em castelos de areia abrirei seteias.

Tenho agora sete anos.
Os cabelos enrolados de algas e muitas sardas queimadas.
Já não preciso da pá, que a areia escorre-me molhada por entre as pontas dos dedos pequenos.
E no búzio poisado já guardei o som do mar.

O ronronar da gata, o sapato esquecido no corredor, a janela que se
embaceia devagar, o pingue-pingue na torneira da cozinha,
o barulho surdo do teclado, e tu sentado ali ao lado.
- Trazes-me um chá, e um Lisaspin? Obrigado.

fazdeconta