O canto do vento nos Ciprestes
Nesse verão, o vento despenteou os campos e os barcosandaram aos gritos sobre as ondas. A beleza excessivadas crianças arrombou os espelhos; e as raparigas,surpreendendo a intimidade dos pais, enlouqueceramnos corredores e foram perder-se, também elas,na volúpia dos dias. Nas árvores centenárias
rebentaram frutos que inflamavam a concha das mãose escorregavam para a boca com a pressa dos nomesproibidos. O sol queimou as páginas do livrointerrompido na violência de um poema e revirouos cantos do único retrato que resistira à moldurado tempo. De noite, os rapazes deitaram-se às baías
atrás das estrelas; e os amantes, incomodadoscom a exiguidade dos quartos, foram fazer amornos balneários frios da praia e acordaram nas vozesum do outro. Já não sei o que disse e o que disseste:
o verão desarruma os sentimentos.
Maria do Rosário Pedreira
Vida em monólogo
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A Mão Esquerda
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