quinta-feira, março 16, 2006

O canto do vento nos Ciprestes

Nesse verão, o vento despenteou os campos e os barcosandaram aos gritos sobre as ondas. A beleza excessivadas crianças arrombou os espelhos; e as raparigas,surpreendendo a intimidade dos pais, enlouqueceramnos corredores e foram perder-se, também elas,na volúpia dos dias. Nas árvores centenárias

rebentaram frutos que inflamavam a concha das mãose escorregavam para a boca com a pressa dos nomesproibidos. O sol queimou as páginas do livrointerrompido na violência de um poema e revirouos cantos do único retrato que resistira à moldurado tempo. De noite, os rapazes deitaram-se às baías

atrás das estrelas; e os amantes, incomodadoscom a exiguidade dos quartos, foram fazer amornos balneários frios da praia e acordaram nas vozesum do outro. Já não sei o que disse e o que disseste:

o verão desarruma os sentimentos.
Maria do Rosário Pedreira



Vida em monólogo
-------------------
A Mão Esquerda
Klik Klik