terça-feira, fevereiro 21, 2006

Urubú-tigre

Imagem


O urubú-tigre é uma espécie raríssima em vias de extinção. As suas características mais marcantes tornam-no facilmente identificável. A título de exemplo, vou descrever-te um dia típico de um urubú-tigre.

11:30 - Acorda apesar de ainda não ter dormido o seu sono de beleza completo. Não consegue voltar a adormecer por receio de não ouvir o despertador e atrasar-se para os seus compromissos.
11:58 - Levanta-se finalmente, convencido de que já não conseguirá adormecer de novo apesar de ter programado o despertador apenas para as 14h. Mesmo sabendo que isso o afectará no seu desempenho nessa noite, resolve ir fazer algo de útil.
16:10 - Leva as coisas para o carro do seu amigo (aliás de outro amigo que emprestou o carro a este) com quem irá tocar nessa noite. Esquece-se do dossier das letras das músicas em casa.
17:12 - Chegam ambos à FNAC da Guia exactamente na altura em que terminou o showcase acústico dos Primordial, banda irlandesa que desejavam mesmo muito ver.

A aura de um urubú-tigre influencia todos em seu redor, para o bem e para o mal.

17:18 - Depois de lamentarem o sucedido decidem ir dar uma vista de olhos pela FNAC. O amigo e a sua namorada com quem lá se encontraram vão para a secção dos livros e o urubú-tigre segue para a secção dos discos, subsecção Metal.
17:23 - Encontra o cd Souls of Black dos Testament, que já procurava desde 1995 (já possuia o vinil desde 1990), por apenas 10€.
17:24 - Quase que esbarra com uma sua colega cantora. Conversam durante algum tempo, trocam contactos, falam sobre os seus projectos e prometem ir dando notícias pois têm algumas coisas em comum.

O urubú-tigre arrasta sempre consigo uma nuvem negra geralmente carregada de vapor de água pronto a precipitar-se sobre ele depois de condensar, no entanto após cada descarga há sempre um período de equilíbrio em que a sorte se inverte e coisas boas acontecem, como iremos ver, novamente, mais à frente.

17:54 - Depois de se despedirem da companheira do amigo, este e o urubú tentam encontrar o local onde uma das Princesas [do urubú] trabalha, mas ela não está a fazer aquele turno. Procuram um spot de boa visibilidade para seguir atentamente o jogo do seu clube. Durante o jogo sorvem nervosamente 2 caipirinhas cada um, única boa recordação que fica desses 105 minutos.
20:00 - Jantam um belo peito de frango apesar da vontade de comer ser pouca depois dos 2 golos que custaram a engolir. Uma imperial para ajudar.
00:40 - Quando a actuação até estava a correr muito bem, com o público a aderir, aparece um cromo (e não era da bola) para destabilizar a coisa. Agarra-se ao microfone e consegue proferir a maior quantidade de palavras imperceptíveis consecutivas de que há memória. Seria algum dialecto da serra ainda desconhecido?

Depois da versão mais longa do Smells Like Teen Spirit alguma vez interpretada lá se conseguem ver livres da avantesma e prosseguir com o seu «trabalho».

01:15 - Durante o intervalo mete conversa com uma jovem que lhe parecia familiar e que não parava de olhar para o urubú-tigre de pena negra e dente-de-sabre afiado. Chega à conclusão que já se conheciam e trocam contactos (de novo, pois perdera-o quando o seu anterior telemóvel se recusara a funcionar permanentemente ao estilo de reforma antecipada).

Ficar com os contactos de duas belas e simpáticas jovens raparigas num espaço de meio-dia é digno de nota durante a vida de um urúbu-tigre.

A característica mais representativa de um urubú-tigre é a sua inclinação para a má sorte ou para a sorte malvada. Quando não está a passar por um período de puro azar é porque o está a projectar noutra qualquer entidade em seu redor. É a pior das maldições. Por tal, a quimera de pena negra e dentadura acutilante ao jeito de um morcego-vampiro (com o qual partilha imensas semelhanças) está condenada ao infortúnio e à desgraça, quando não própria então à alheia. A única forma de fugir à maldição é rodear-se de pessoas positivas e empáticas e é por isso que quando não está refugiado na solidão o urubú-tigre pode ser encontrado em muito boas companhias.

O documentário continuará (ou não) num futuro incerto. Cumprimentos a todos e beijos e abraços aqueles em particular, nomeadamente um abraço apertadinho à Princesa (muitas saudades) e uma dentadinha ao de leve na penugem da minha actual visitante mais regular.
**********

100 Contemplações