Ingenuidades
O burburinho era imenso naquela cervejaria onde se discutia tudo e todos, conversas, algumas intelectualizadas e, outras, reduzidas ao gosto comum do desporto nacional. Algumas anedotas pelo meio e um catrapiscar de olhos para aquela mulher de rosto lindíssimo de perna bem cruzada...
Entre duas fintas, aquelas gargantas emborcavam mais uma caneca de cerveja afogando segredos e mágoas incontáveis. Trincando o tremoço ou lascando um pedaço de marisco, as babas regozijavam o sabor e, mesmo em frente, via-se alguem trincando um “prego” com olhos aguados do marisco amassado por outros.
Naquele ambiente de azáfama gustativa, de gestos e gargalhadas circulava uma figura de estatura baixa, rodopiando de mesa em mesa sacando alguma moeda perdida. Ainda era o escudo, nessa ocasião, mas o homem de trajo simples algo mal amanhado exibia umas cangalhas de lentes de fundo de garrafa, barba negra e crescida.
Chegou à mesa onde quatro se divertiam com os golos da cerveja e abordou:- alguem que me ajude com alguma coisa...tenho que ir a Espanha para ser operado à vista, quando não posso cegar.
Todos fizeram vista grossa excepto um que, vasculhando, encontrou ao canto de um dos bolsos uma moeda de cem escudos, a única. Os copos alguem lhe pagaria, pois os amigos sabiam que a sua vida andava complicada.
Num ápice o “solicitador de moeda” raspou-se e saíu...
Na mesa saltou o comentário:- ó pá, não percebeste que estava a avisar-te com os olhos? Poça, este gajo há mais de dois anos que anda a pedir e sempre com a mesma conversa... serve-se da bondade de alguns, mas os que o conhecem mandam o tipo à fava!
O “expoliado” ficou de boca aberta e depois de uns segundos de silêncio, espaçando com um golo de bebida, disse:
- deixa... julguei que o homem falava verdade, que se lixe, aquela era a minha única moeda.
caixinha de pregos
2 Comments:
isto por aqui marcha depressa...
Enjoyed a lot!
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