quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Consequência

Com 5 anos era a mais mimada da rua;

Com 15 anos era a mais mimada do bairro;

Com 20 anos tinha tudo que queria, sem esforço, de mão beijada, se achava a mais esperta, a mais importante, sentia que a palavra não, jamais seria dita a ela e que era a dona da razão;

Com 25 anos, começava a sentir-se infeliz e que diferentemente do que ela pensava, às pessoas não eram bonecos com os quais ela brincava, e deixava a imaginação confundir realidade com fantasia. Era notório que uma de suas manias era inventar e enganar-se a si mesma, para aliviar as decepções que vinha carregando consigo pelo caminho. Gostava de inventar para sentir-se por cima, para se achar vitoriosa. Quando perdia, inventava em sua mente que era dela a vitória. Não admitia ouvir um não, como mimada que sempre foi, pensava que todos deveriam atendê-la e satisfazer seus caprichos;

Com 35 anos já via que o mundo era pequeno para ela. Pois não, pessoas assim têm uma enorme dificuldade em arrumar amigos de verdade, com ela não era diferente. Ninguém a agradava, ninguém era perfeito como ela;

Com 45 anos se transformara numa pessoa depressiva, ninguém a compreendia, ela nunca estava satisfeita com nada. Vivia a esbanjar, era fútil, pouco inteligente e, no entanto continuava esnobe. E a vida ia passando;

Aos 60 sentia-se amargurada. Raros eram os dias de alegria. O pior é que ela era a certa. A correta, a dona da verdade. E prosseguia;

Aos 85 anos percebeu que cometeu um pequeno equívoco. Mas era tarde, a solidão batera-lhe a porta.

Percebeu que ao contrário do que pensava, a vida não era cor de rosa...
... e que o tempo não anda para trás.

Acompanhar a foto com este pensamento: pior do que perder é nos enganarmos a fazer de conta que ganhamos. Por que se mentimos para os outros, fica a sensação de que o original não é nosso. Se mentimos para si mesmos, além da sensação, fica a consciência de que o artificial faz parte de nossa vida. E isto, reflete, em curto prazo no desprezo e em longo prazo no arrependimento de que poderíamos ter feito melhor, vivido melhor e sem o arrependimento de que apesar de tudo, poderíamos evitar ser menos pior do que já fomos. Por que podemos até comprar futilidades, mas sentimentos, eu cá duvido.

Smallville