A Arte da Provocação e a Miopia: De novo as caricaturas de Maomé

Imagem
Ele aí está. A polémica deflagrada pela publicação das caricaturas de Maomé foi o motivo para a tensão entre civilizações passar a confronto e a agressão. Felizmente, em pequena escala. Embaixadas europeias atacadas no mundo árabe e violência, com a extrema direita envolvida, na escandinávia. São sempre os extremistas e os radicais que lucram com estas situações. O Presidente do Irão já está a trunfar... e é perigoso quando um provocador inconsciente tem trunfos na mão.
Volto ao que sugeri no meu post de ontem sobre o assunto. Quando as relações entre as duas partes estão tensas, não se deve dar tiros para o ar. O azeite pode entornar-se. E há sempre os que se aproveitam disso. Olhemos para um exemplo quotidiano: quando nos damos mal com um vizinho mal-formado, não lhe vamos fazer um manguito... a menos que queiramos chatice. (E o manguito também é apenas uma liberdade de expressão não punida por lei, Sr. JPP.) Quem ganha, no caso das caricaturas e do apoio que receberam, é o preconceito. E a ele estão associados a falta de abertura mental e o desdém pelo outro e pelo diferente. Quem perde é o consenso e a boa relação entre civilizações, a amizade entre os povos e a cidadania.
Não há dúvida de que a grande maioria do mundo árabe é regida (e oprimida) por governos e regras obscurantistas, despóticas e, em certos casos, desumanas. E o obscurantismo alastra-se assim a uma grande maioria de um povo. Os ataques às embaixadas são prova disso; e são actos condenáveis. Mas não é pela provocação que os ajudamos a mudar. Valeu a pena afrontá-los e intensificar a tensão existente entre os dois lados? E logo tocando na questão mais sensível, na religião, que é vivida diferentemente por eles e por nós. Ficámos nós com a culpa da provocação e com a estupidez de não reconhecermos a diferença do outro. Não é desta forma que se mostra aos árabes que a democracia e a liberdade (mesmo a de expressão) são valores mais justos e mais humanos.

BlogCafé