quarta-feira, abril 12, 2006

Sem som

imagem daqui

Para te escrever sobre o silêncio, é necessário uma moldura fechada e insonorizada.

Perderás assim o ritmo do som dos passos abafados no tabuado, o som das lagartas a triturar ao de leve as folhas, o murmúrio do vento que nos enreda os cabelos.
Esquecerás o som do mar, e o gorgolejar dos peixes.Cegar-te-á a areia que rodopia.
Perderás o som das montanhas escurecidas pelas nuvens difusas, que projectam sombras nas pedras dormentes e subjacentes.
Não responderás aos pássaros nocturnos nos pios de caça e namoro.
E não te deixarás adormecer ao som das cigarras que embalam ventres satisfeitos, frescos de luar nas noites de Verão.
O não som em espécie de tortura manietada muda.

As mãos que harpeiam melodias que sei que soam, mas não sei quais.E como poderás escutar o bater monocórdico do coração?E ouvir a brutalidade dos factos?

Viver calado, não é viver no silêncio.É sentir os sons no momento e ofertá-lo nas palmas das mãos em palavras.

fazdeconta