segunda-feira, fevereiro 27, 2006

BLOGOSFERA EM 2005 (XXII)

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O coordenador do grupo de trabalho “Weblogs e Política”, Pedro Mexia (Estado Civil), apresentaria, conjuntamente com Nuno Jerónimo (o “Statler”, do Blogue dos Marretas) as principais conclusões sobre esta área da blogosfera.

Pedro Mexia começou por referir não considerar que exista qualquer unidade global ou continuidade entre os blogues, para além da plataforma técnica, pelo que não será adequado proceder a generalizações.

Falando sobre as origens da blogosfera em Portugal, referiu que a Coluna Infame foi o primeiro blogue predominantemente político, cuja suspensão seria inclusivamente objecto de referência no Editorial do Público. Com o surgimento do Blogue de Esquerda, gerar-se-ia um intenso debate sobre a guerra do Iraque e as tendências pró ou anti-americanas. Em termos gerais, considera-se que a entrada de Pacheco Pereira (Abrupto) veio contribuir para credibilizar a blogosfera, o que Pedro Mexia questiona.

Parecendo que, com a queda do muro de Berlim, se esbatera a tradicional clivagem entre direita e esquerda, de repente, voltava a falar-se insistentemente nessa dicotomia, sobretudo no segmento de "Direita" (relativamente ao qual continuava a notar-se um certo receio de assumir a definição).

Pedro Mexia aponta o papel da blogosfera na desmultiplicação de pontos de vista, dado que, basicamente, os jornais exprimem as opiniões do “Bloco Central”; na realidade, não se limitando o espaço político ao PS e PPD/PSD, nos blogues, naturalmente, surgiram representantes de todo o espectro político, de todas as sensibilidades (inclusivamente com uma “sobre-representação” dos extremos, quer do Bloco de Esquerda, quer do CDS-PP), o que é algo muito enriquecedor em relação à comunicação social tradicional.

Um dos grandes interesses dos blogues é a criação de comunidades; “redescobrir” pessoas com os mesmos interesses, as mesmas ideias, que lêem os mesmos livros.

Em relação aos blogues políticos como instrumentos de polémica – a chamada “parada e resposta” – considerou que teve uma fase interessante (entusiasmante e mesmo lúdica, em termos de retórica) no início; hoje, já se torna tudo demasiado previsível (o factor surpresa esgota-se ao fim de um determinado número de “posts”).

Sobre a vertente humorística, irónica e de sarcasmo, Pedro Mexia considera que os blogues que inicialmente adoptaram esse registo, “contaminaram” o resto da blogosfera; em consequência, a tendência é para que, num debate entre uma pessoa tecnicamente muito preparada e um blogger irónico, a primeiro “perca esse debate”.

Concluindo a sua intervenção, referindo o papel dos blogues como espaço de intervenção pública, sublinhou que isso implica a necessidade de respeitar princípios ou regras deontológicas. Finalizaria, referindo que, para além de as pessoas “comuns” terem adquirido um espaço de intervenção, assiste-se paralelamente a uma multiplicação do espaço de intervenção de jornalistas e outros actores políticos, que dispunham já de outras tribunas.

Nuno Jerónimo retomaria a vertente das comunidades de interesses, organizadas em blogues colectivos, facilitando assim o acompanhamento da actividade política, o que, curiosamente, acabaria por, nas questões mais polémicas, levar inclusivamente a discussões internas entre os membros de um mesmo blogue.

Para além dos blogues colectivos, referiu ainda o caso de “A Mão Invisível”, que opera como uma “plataforma conjunta” de pessoas que escrevem em vários outros blogues, referindo-se-lhe mesmo como uma “espécie de revista online ou coluna de opinião”.

Concluiria fazendo referência às questões clássicas no debate político blogosférico: “O que é o liberalismo? O que é ser conservador? O que é ser de direita e/ou de esquerda? A que direita / esquerda é que pertencem?”

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